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trancar o dedo numa porta dói. bater com o queixo no chão dói. torcer o tornozelo dói. um estalo, um soco, um pontapé, doem. dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói uma cólica, uma cárie e uma pedra no rim. mas o que mais dói é a saudade. saudade de um irmão que mora longe. saudade de uma amiga de infância. saudade do gosto de uma fruta que já não se encontra. saudade de um pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. saudade de uma cidade.
saudade de nós mesmo, que o tempo não perdoa. doem essas saudades todas. mas a saudade mais dolorosa é a saudade de quem se ama. saudade da pele, do cheiro, dos beijos. saudade da presença, e até da ausência consentida.
tu podias ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. tu podias ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. tu podias ficar o dia sem vê-la, ele o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
saudade é basicamente não saber. não saber se ele continua num ambiente mais frio. não saber se continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. não saber se foi a uma consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupado, se tem assistido as aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Hi5, se aprendeu a estacionar entre dois carros, se continua preferindo Facebook, se continua a preferir sumo, se continua a sorrir com aqueles olhos apertados, se continua cantando tão bem, se continua a detestar o McDonald's, se continua a amar, se continua a chorar até nas comédias.
saudade é não saber mesmo! não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe entrem no pensamento, não saber como conter as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer. é não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro ou mais giro. saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. saudade é isso que senti enquanto estive a escrever o que tu, provavelmente, está a sentir agora depois que acabaste de ler.